Editorial
Com a edição do presente número da Revista de Ciências Militares (RCM), e da correspondente versão em inglês, Portuguese Journal of Military Sciences, o Instituto Universitário Militar (IUM) prossegue com a divulgação semestral da investigação na área das Ciências Militares.
Os artigos aqui presentes constituem estudos inovadores sobre a segurança, a liderança e gestão organizacional em contextos militares e contribuem para o entendimento dos desafios operacionais, organizacionais e humanos que moldam a atuação das Forças Armadas Portuguesas em cenários internacionais e locais.
O primeiro estudo examina o impacto da Força de Reação (QRF) portuguesa na Missão Multidimensional Integrada de Estabilização das Nações Unidas na República Centro-Africana (MINUSCA). Este estudo evidencia a eficácia da QRF em reduzir a violência física contra civis, enquanto ressalta as limitações dessa abordagem de curto prazo em estabelecer um ambiente seguro e sustentável. A investigação lança luz sobre a necessidade de estratégias mais abrangentes para a proteção de civis em contextos de alto risco.
Em seguida, o segundo estudo explora a relação entre fatores de personalidade, liderança e autoeficácia entre oficiais militares, destacando a influência positiva da Liderança Transformacional e das competências interpessoais. A pesquisa sublinha a importância de estilos de liderança que promovam o trabalho em equipa e a comunicação, elementos fundamentais para o desenvolvimento de líderes eficazes em contextos operacionais.
O terceiro estudo aborda a participação de Portugal na Missão de Treino da União Europeia no Mali (EUTM-Mali), oferecendo uma análise estratégica sobre o papel das Forças Armadas Portuguesas na segurança do Sahel. O estudo evidencia o compromisso multilateral de Portugal na promoção da segurança regional e a capacidade do país de influenciar a política europeia em África, reforçando sua posição como ator relevante na cooperação de segurança.
A compatibilidade entre a Liderança Positiva e a cultura militar é explorada no quarto estudo, que examina o impacto deste estilo de liderança na Qualidade de Vida no Trabalho e no Comprometimento Organizacional dos militares. Os resultados indicam que práticas de Liderança Positiva, como o incentivo à comunicação aberta e ao feedback, podem ser essenciais para promover um ambiente de trabalho mais saudável e motivador nas Forças Armadas, sugerindo a relevância de práticas humanísticas dentro de um contexto de comando estruturado.
Por fim, o quinto estudo discute a transformação digital e a gestão organizacional na Força Aérea, focando-se no desenvolvimento de uma Organização Digital que otimize a eficiência operacional. Utilizando a metodologia Design Science Research, este estudo apresenta um modelo de organização digital que integra competências individuais e funções organizacionais, enfatizando a rastreabilidade e a eficácia dos processos de gestão, em linha com as necessidades crescentes de desmaterialização e sustentabilidade.
Os estudos apresentados nesta edição da RCM refletem o compromisso das Forças Armadas Portuguesas com a inovação e a excelência. Acreditamos que estas investigações oferecem contributos valiosos para a comunidade científica, incentivando a reflexão crítica sobre os papéis e os desafios das forças militares na contemporaneidade.
O Comandante do IUM
Hermínio Teodoro Maio
Tenente-General
Artigos

Resumo
Em 2017, após um drástico aumento da violência na República Centro-Africana (RCA), o Conselho de Segurança das Nações Unidas decidiu desdobrar uma Força de Reação Rápida (QRF) dentro da estrutura da Missão Multidimensional Integrada de Estabilização das Nações. Nesse contexto, o objetivo desta pesquisa foi analisar o papel desempenhado pela QRF portuguesa como uma unidade de operações especiais, bem como sua contribuição para a proteção de civis (POC) na RCA. Metodologicamente, este estudo consistiu em um estudo de caso de métodos mistos sobre a QRF da MINUSCA, no qual os dados e a análise quantitativos desempenharam um papel secundário em apoio aos dados e à análise qualitativos. Como resultado, foi possível concluir que os comandos portugueses contribuíram efetivamente para a redução da violência física contra civis por meio da realização de tarefas de POC voltadas para o curto prazo. No entanto, como a QRF portuguesa não realizou tarefas de POC voltadas para o longo prazo, sua contribuição foi insuficiente para estabelecer um ambiente seguro na República Centro-Africana.
Palavras-chave
Proteção de Civis, Força de Reação Rápida Portuguesa, Operações Especiais, MINUSCA.Autor(es) (*)


Resumo
O presente estudo teve como principal objetivo analisar o impacto dos fatores de personalidade (Big Five), participação em missões operacionais, estilos e competências de liderança na Autoeficácia em Liderança. Este estudo de caso apresentou uma metodologia quantitativa, através da aplicação de um questionário a uma amostra de 103 oficiais do Curso de Promoção a Oficial Superior 2022/2023 (2ª edição). Os principais resultados obtidos sugerem um modelo explicativo da Autoeficácia em Liderança (capacidade explicativa de 64.2%) tendo sido identificadas como variáveis preditivas: a Liderança Transformacional, o Neuroticismo (relação negativa), a importância atribuída às competências Trabalho de Equipa e Comunicação, e a qualidade da Interação com a Equipa. A participação em missões operacionais (frequência) não foi significativa no modelo e não foram encontradas diferenças significativas na Autoeficácia em Liderança entre militares com e sem experiência em missões operacionais.
Palavras-chave
Autoeficácia, Big Five, competências de liderança, estilos de liderança.Autor(es) (*)









Resumo
Neste estudo foi analisada a participação das Forças Armadas Portuguesas na Missão de Treino da União Europeia no Mali (EUTM Mali), tendo em vista identificar possíveis contributos para desenhar uma estratégia nacional para o Sahel. A investigação seguiu um método de raciocínio dedutivo, consubstanciado numa estratégia qualitativa e utilizou-se o estudo de caso como desenho de pesquisa, sustentado na pesquisa bibliográfica e documental, bem como em entrevistas semiestruturadas. Desta investigação constatou-se que a União Europeia está interessada em garantir a segurança na região do Sahel porque algumas das ameaças originárias desta região podem potencialmente colocar em perigo os seus Estados-membros. Com a deterioração da situação no norte do Mali, a Europa decidiu tornar-se mais ativa neste país através de missões no quadro da Política Comum de Segurança e Defesa. Concluiu-se que a participação militar nacional na EUTM Mali, tem procurado contribuir para a satisfação dos compromissos internacionais assumidos pela União Europeia na região, mostrando que Portugal se empenha multilateralmente, demonstra ser um produtor de segurança regional e possuindo a credibilidade necessária para influenciar decisões na União Europeia relativamente a África, e mais concretamente ao Sahel.
Palavras-chave
Forças Armadas Portuguesas, Missão de Treino da União Europeia no Mali, Mali, Portugal, Sahel, União Europeia.Autor(es) (*)



Resumo
A Liderança Positiva, conceito proposto por Kim Cameron em 2008, fundamentado essencialmente na psicologia positiva, visa promover um ambiente de trabalho positivo, incentivo ao bem-estar e foco em pontos fortes e resultados positivos. Por outro lado, a liderança nas Forças Armadas, baseada numa cultura castrense e uma estrutura hierarquizada rígida, exige uma abordagem distinta devido às suas missões exigidas. Assim, no contraste entre a necessidade de comando militar e uma abordagem humanística que a Liderança Positiva propõe, este trabalho questionará a compatibilidade destes conceitos e explorará como é que as práticas de Liderança Positiva podem enriquecer o contexto militar, tendo como objetivo analisar a influência da Liderança Positiva na “Qualidade de Vida no Trabalho” e “Comprometimento Organizacional” dos militares. Para tal, através de um estudo hipotético-dedutivo, método quantitativo, com recurso ao inquérito por questionário aos militares do Exército e da Força Aérea, foi testado um modelo de mediação. Os resultados indicam que a Liderança Positiva influencia a “Qualidade de Vida no Trabalho” e o “Comprometimento Organizacional”, especialmente através das variáveis mediadoras “Clima de Voz” e “Silêncio Acquiescent”. Considera-se que os líderes militares devem cultivar um ambiente em que a voz seja permitida e ativamente encorajada, através de práticas como o feedback, brainstorming e uma política de porta aberta.
Palavras-chave
Comprometimento Organizacional, Clima de Voz, Forças Armadas, Liderança Positiva, Qualidade de Vida no Trabalho, Silêncio.Autor(es) (*)




Resumo
A crescente preocupação com o Ambiente e com a Desmaterialização, presente nos compromissos e obrigações assumidos por Portugal, e consequentemente pela Força Aérea, aliados à necessidade de direção em quase tempo real, cada vez mais premente, concorrem para o desenvolvimento de aplicações informáticas, com cockpits que permitam a gestão de múltiplos domínios de aplicação. A Organização, constitui-se como um elemento base que alicerça as instituições militares às capacidades militares e ao seu produto operacional. Esta investigação tem como objetivo a otimização da gestão da organização comparando o planeamento com a realidade, alinhando os conceitos organizacionais e potenciando a ligação entre as competências individuais e as competências e funções organizacionais. Utiliza a metodologia Design Science Research na pesquisa e no desenho da Organização Digital da Força Aérea, materializada na criação e ligação entre si de conceitos organizacionais e na construção de um artefacto informático. Os contributos científicos focam-se na representação de contextos, nas competências dos agentes organizacionais e no desenvolvimento de conceitos informacionais e na rastreabilidade da ação ocorrida no âmbito do estudo. Conclui- -se que o conceito da Organização Digital permite acrescentar eficácia e eficiência à gestão da Força Aérea.
Palavras-chave
Entidades Organizacionais, Força Aérea Portuguesa, Organização Digital, Posições Organizacionais, Transformação Digital.Autor(es) (*)


(*) NOTA: A ordem alfabética de apresentação dos autores pode não corresponder à ordem formal que se encontra no artigo.